Escola Estadual São José – Além Paraíba – MG
Após leitura e apreciação do texto COMPETÊNCIAS PARA ENSINAR do sociólogo Philippe Perrenoud e a entrevista concedida a revista Nova Escola de setembro de 2000, o GDP Comunicação e Criatividade elaborou o seguinte texto:
A organização do trabalho escolar nos diversos níveis de ensino baseia-se na constituição de disciplinas, que se estruturam de modo relativamente independente.
As disciplinas são verdadeiros canais de comunicação entre a escola e a realidade. A ausência de interação curricular gera a inutilidade do conhecimento, como cita Perrenoud “a escolaridade funciona baseada numa espécie de ‘divisão do trabalho’: à escola cabe fornecer os recursos (saberes e habilidades básicos), à vida ou às habilitações profissionais cabe desenvolver competências. Essa divisão do trabalho repousa sobre uma ficção. A maioria dos conhecimentos acumulados na escola permanece inútil na vida cotidiana, não porque careça de pertinência, mas porque os alunos não treinaram para utilizá-los em situações concretas.” Se as disciplinas funcionam como canais, todo conteúdo deveria ter a sua aplicabilidade, pois bem sabemos que a não contextualização dos assuntos gera desinteresse na sala de aula.
Observa-se ainda, os processos avaliativos na educação do Brasil, caracterizam-se por uma excessiva valorização da memória e dos conteúdos “em si”, reforçando a crença segundo a qual conhecer é dispor de um repertório de respostas – padrão a problemas já conhecidos. A Avaliação, neste contexto, é a simples constatação desse repertório. Quando o aluno termina o processo avaliativo, esquece tudo o que foi aprendido.
Aprender qualquer disciplina não pode resultar de uma apreciação isolada de seu conteúdo, mas sim do modo como se articulam as disciplinas em seu conjunto; desenvolver a interdisciplinaridade/transdisciplinaridade na escola é deslocar as atenções das disciplinas para as pessoas. É necessário ir além das disciplinas, situando o conhecimento a serviço dos projetos das pessoas. É saber conquistar o aluno dentro da cultura de cada assunto e fazê-lo desenvolver o prazer de aprender.
Para isso acontecer é necessário uma mudança profunda na formação do docente. Qualificação, estudo continuado é parte da mudança a que falamos, pois o século XXI apresenta-se com transformações tecnológicas, sociais e culturais. A aula apenas como exercício da intelectualidade, já se sabe que não gera as competências e as habilidades desejadas para o mercado de trabalho. É necessário desenvolver aulas ‘procedimentais’, ou seja, “saber como fazer”. E para fazer tem que saber, segundo Perrenoud: “é necessário reconhecer que toda tarefa existe uma parte de inteligência, sabedoria, antecipação e raciocínio.”
Acompanhar a evolução do mundo é exercitar os saberes, segundo o autor:
• Saber identificar, avaliar e valorizar suas possibilidades, seus direitos, seus limites e suas necessidades;
• Saber formar e conduzir projetos e desenvolver estratégias, individualmente ou em grupo;
• Saber analisar situações, relações e campos de força de forma sistêmica;
• Saber cooperar, agir em sinergia, participar de uma atividade coletiva e partilhar liderança;
• Saber construir e estimular organizações e sistemas de ação coletiva do tipo democrático;
• Saber gerenciar e superar conflitos;
• Saber conviver do tipo democrático;
• Saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las;
• Saber construir normas negociadas de convivência que superem as diferenças culturais.
São esses saberes que encerramos o nosso parecer, acreditando que a mudança encontra-se em cada um e na grande instituição do saber, que é a escola. Por último citamos outro trecho da entrevista que se faz pertinente: “o melhor indício de uma mudança profunda é a diminuição do peso dos conteúdos disciplinares e uma avaliação formativa e certificativa, orientada claramente para as competências. As competências não dão as costas para os saberes, mas não se pode pretender desenvolvê-las sem dedicar o tempo necessário para colocá-las em prática. Não basta juntar uma situação de transferência no final de cada capítulo de um curso convencional. Para o sistema mudar, é preciso reformular seus programas em termos de desenvolvimento de competências verdadeiras, liberar disciplinas, introduzir os ciclos de aprendizagem convidar o professor para uma pedagogia diferenciada, mudando, então, sua representação e sua prática.”
Jailza Maria Oliveira Araújo
Coordenadora do GDP – Comunicação e Criatividade
Muito bem elaborada a conclusão do trabalho. Precisamos muito das idéias desse grande pensador da educação efetivamente em nossas salas de aula e só conseguiremos isso com muito estudo.
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